“Podemos perguntar-nos se
o artista da cela foi mesmo um prisioneiro, ou se se trata de um trabalho
realizado de forma deliberada para deixar uma mensagem. Talvez esta ultima seja
um meio de encontrarmos a via para SAIRMOS DA NOSSA PRISÃO INTERIOR. De
qualquer modo, as esculturas da Torre do Prisioneiro, em Gisors, transcendem,
de longe, o simples testemunho da nostalgia de um homem, como gostariam de nos
fazer acreditar.
Michel Lamy
Biólogo e
professor na Universidade de Bordéus
Existe toda uma aura de lenda TEMPLÁRIA à volta do Castelo de
Gisors, em França. A arquitetura circular deste castelo da Ordem torna-o peculiar
e transmite-nos a idéia do “CENTRO DO MUNDO”, ou seja, o lugar
onde o céu comunica com a terra, espaço propiciador para a alma humana ascender
ao nível de consciência onde esta entra em contato com os arquétipos
espirituais.
Neste Castelo
existe a chamada Torre do Prisioneiro. Diz a lenda que lá esteve encarcerado Poulain, um Cavaleiro amante da Rainha
Branca. Deste amor nasceu uma filha que não sobreviveu. Entretanto o Rei, posto
ao corrente do caso, mandou encarcerar Poulain nessa torre do Castelo. O
cavaleiro conseguiu-se evadir, mas, ferido, só teve forças para ir morrer nos
braços daquela que amava. Nesta famosa cela ainda hoje o visitante do Castelo
de Gisors pode admirar muitos baixos-relevos que o “prisioneiro” teria
esculpido. Num destes baixo-relevos, precisamente na ponta do cinto de uma
donzela, vemos São Jorge a matar o Dragão. Podemos também ler o seguinte
texto:
O MATER DEI MEMENTO MEI – PULAIN
(Oh mãe de Deus, lembra-te
de mim – Poulain)
Nesta lenda do “prisioneiro”
encontramos claramente um substrato simbólico semelhante ao mito de Eros
e Psiché 1 Poulin conhece a Dama dos seus amores, depois fica
prisioneiro; após esta aprovação, liberta-se e ao encontrar a Rainha Branca,
morre. No ciclo do Rei Artur, o Cavaleiro que VISSE O GRAAL 2 morreria
nesse momento, pois morrer é renascer para uma outra dimensão.
1 EROS: deus do Amor. PSICHÉ: mortal, moça de rara beleza. Seu nome
significa Alma.
2 GRAAL: é uma expressão medieval
que designa normalmente o cálice usado por Jesus Cristo
na Última Ceia,
e no qual José de Arimatéia colheu o sangue de Jesus
durante a crucificação.
Moisés do
Espírito Santo, eminente estudioso das religiões que passaram pelo território
português, não hesita em afirmar: “a
lógica da vida religiosa é a seguinte: primeiro existem os arquétipos nos
inconscientes individuais; depois praticam-se ritos concordantes com esses
arquétipos. Os arquétipos são indizíveis, mas a relação entre eles e o ritual tem
de ser justificada à luz da racionalidade vulgar; para tanto inventam-se os
mitos religiosos.”
Tendo como base os
três níveis de realidade propostos por Henry
Cobin (Francês, filósofo, teólogo e professor de Estudos Islâmicos da
Universidade de Sorbonne em Paris), podemos compreender e sentir melhor a
dinâmica da vida espiritual realizada.
O caminho natural
do Homem Global, espiritualmente e psiquicamente saudável, é capar de mitos de
acordo com os seus arquétipos inconscientes, através a INTERIORIDADE e ir, paulatinamente, concretizando-os de alguma
forma no MUNDO DO SENSÍVEL.
Nesta perspectiva,
torna-se inteligível a afirmação do psiquiatra Suíço Carl
Gustav Jung, quando diz que a vida psíquica saudável é o resultado de
um inconsciente que se realiza. Carl Gustav Jung é fundador da psicologia
analítica, também conhecida como psicologia junguiana.
Hoje existe uma
pressão excessiva para a exterioridade, o que provoca as chamadas patologias
do Sagrado, segundo a terminologia antropológica. O homem fica vazio
espiritualmente indo buscar nas paixões da personalidade (sexo sem amor verdadeiro, prestígio,
poder material...) consolação para sua profunda fome sentimental. A
própria amizade, tão enaltecia pelos filósofos de todos os tempos, existe muito
pouco, pois ela, para ser verdadeira exige uma comunicação entre
interioridades, dado que a personalidade exterior é egoísta por natureza.
Existe também o
caso contrário das pessoas que, sentindo o profundo vazio espiritual e humano
reinante na nossa sociedade, buscam o esoterismo mas não se esforçam por
senti-lo e vivê-lo à sua medida, continuando a somar conhecimento para o
intelecto. O intelecto fica muito preenchido mas a alma continua pobre e sem
interioridade, abrindo espaço à superstição. Ora, a vivência esotérica provoca
de forma natural o altruísmo e o sentimento de solidariedade para com todo o
cosmo. Por isso, os Templários que
estiveram presos em Chiron, na França, esculpiram na pedra um coração irradiante.
MUNDO INTELIGÍVEL:
Dimensão da natureza onde
habitam os arquétipos puros do BOM, do Belo e do Justo. Aqui se encontra o
verdadeiro GRAAL. Quando a consciência do Homem consegue acender a este mundo,
a alma iluminada adquire uma força poderosa. “é tão belo que é inexprimível”
MUNDO IMAGINAL:
Dimensão sutil da natureza
onde vivem os mitos e idéias com forma. Os mitos vivem e tem força enquanto
veiculem energia proveniente dos arquétipos puros (espirituais). Por exemplo,
se um homem capta uma idéia mas não a concretiza, ela deixa de o habitar,
ficando só a “casca” mítica.
MUNDO SENSÍVEL:
Realidade Histórica onde
se concretizam os mitos e idéias que o Homem capta. Ao concretizá-los, o Homem
Realiza-se.
DUPLA
ESPIRAL:
Símbolo que encontramos nas mais diversas
culturas antigas como a Céltica e a Grega. Representa a harmonia entre a
inspiração e a respiração. O movimento centrípeto e centrífugo A captação dos
mitos e arquétipos e a sua manifestação no mundo visível.
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