O chamado Pergaminho
de Chinon é um documento histórico,
originalmente publicado por Étienne
Baluze no século XVII, na
obra "Vitae Paparum Avenionensis" ("A Vida dos Papas de Avignon").
Este documento
obteve destaque em nossos dias graças à descoberta, pela Dra. Barbara
Frale, de que o Papa Clemente V absolvera secretamente o último Grão-mestre, Jacques de Molay, e os demais líderes dos Templários, em 1308,
das acusações feitas pela Santa Inquisição.1 O pergaminho está datado "Chinon,
dezessete a vinte de agosto de 1308" e o Vaticano possui uma cópia
autenticada, sob a referência "Archivum Arcis Armarium D 218".
O pergaminho original encontra-se sob a referência "D 217".
História
À época, uma investigação foi executada por agentes do Papa para
verificar os argumentos contra os acusados, no Castelo
de Chinon, na diocese
de Tours, na França. De acordo com o
documento, o papa instruiu a Berengar, cardeal da SS. Nereus e Achileus, a
Stephanus, cardeal de St.
Ciriacus em Therminis, e a Landolf, cardeal diácono de St. Angel,
para conduzir a investigação sobre os Cavaleiros Templários acusados. Esses
cardeais declararam que:
"… através desta declaração oficial dirigida a todos que a lerem
… o muito mesmo senhor Papa desejando e pretendendo saber a pura, completa e
descompromissada verdade pelos líderes da dita Ordem, Irmão Jacques de Molay,
Grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários, Irmão Raymbaud
de Caron, Preceptor (dos) comandados dos Cavaleiros Templários em Outremer, Irmão Hugo
de Pérraud, Preceptor de França,
Irmão Geoffroy
de Gonneville, Preceptor de Aquitania e Poitou, e Geoffroy
de Charney, Preceptor da Normandia, nos ordenou e comissionou
especificamente e por sua verbalmente expressa vontade de forma que nós
possamos com diligência examinar a verdade através de questionamento do
grão-mestre e dos preceptores antes citados - um por um e individualmente,
tendo junto testemunhas públicas e confiáveis."
Raymbaud de Caron foi o primeiro a ser interrogado em 17 de agosto de 1308. Após o
interrogatório, os cardeais deram a absolvição:
"… Após este juramento, pela autoridade do senhor Papa
especificamente dada a nós para esta finalidade, nós estendemos a este humilde
solicitante Irmão Raymbaud, em uma forma aceita pela Igreja o perdão de
absolvição do veredito de excomunhão que fora expedido pelos feitos antes
mencionados, reintegrando-o em unidade com a Igreja e reintroduzindo-o para
comunhão da fé e dos sacramentos da Igreja."
O segundo a ser interrogado, no mesmo dia, foi Geoffroy de Charney. Ele
também foi absolvido. O terceiro a ser interrogado, no mesmo dia, foi Geoffroy
de Gonneville. Ele também foi absolvido.
Em 19 de agosto de
1308, Hugo de Pérraud foi o quarto interrogado. Foi absolvido também.
O Grão-mestre foi interrogado por último, em 20 de agosto de 1308. Os interrogadores
cardeais também o absolveram. De acordo com o documento, todos os
interrogatórios dos acusados, entre 17 e 20 de agosto, ocorreram na presença de
notários públicos e testemunhas selecionadas. Entre as acusações estavam sodomia,2 negar a Deus, beijos ilícitos, cuspir na cruz, e adoração a um ídolo.
É de notar que o documento não parece corresponder aos atos posteriores
do Papa, uma vez que o grão-mestre e seus subordinados permaneceram presos até 1314,
quando foram queimados vivos em Chinon.
O corpo do texto detalha a aparência do acusado, o juramento do acusado,
acusações contra o acusado, e o modo de interrogação do acusado: no
interrogatório do Irmão Molay, "Quando perguntado se havia confessado
estes feitos devido a um pedido, recompensa, gratidão, favor, medo, ódio ou
persuasão por alguém, ou pelo uso de força, ou medo de tortura futura, ele
respondeu que não."
O pergaminho de Chinon foi preparado por Robert de Condet, clérigo da
diocese de Soissons. Os notários foram Umberto
Vercellani, Nicolo Nicolai de Benvenuto, Robert de Condet, e o mestre Master
Amise d’Orléans le Ratif. As testemunhas foram o Irmão Raymond, abade do
monastério beneditino de St. Theofred, Mestre Berard de Boiano, arquediácono de
Troia,
Raoul de Boset, confessor e cânone de Paris, e Pierre de Soire, superintendente
de Saint-Gaugery
em Cambresis.
Antes de ser queimado vivo em 1314, Jacques de Molay teria rogado uma
maldição, a partir da pira, para que Filipe, o Belo e seus descentes tivessem
algum revés fatal. A lenda afirma que De Molay teria desafiado o rei e o Papa a
encontrá-lo novamente diante do julgamento de Deus antes que aquele ano
terminasse - apesar de esta frase não conste em relatos modernos da execução de
de Molay. Efetivamente o monarca veio a falecer no mesmo ano, assim como o Papa
Clemente V. Nos catorze anos seguintes, os três filhos do rei, seus sucessores
no trono, vieram a falecer, encerrando a linhagem direta de três séculos da Dinastia Capetiana,
levando muitos a crer na "maldição", base para a série de romances
históricos "Les Rois Maudits", de autoria de Maurice Druon.
Ironicamente, o Rei Louis XVI era um descendente de Felipe, O Belo, e
sua neta Rainha Joan II de Navarre.3 Quando a cabeça do rei caiu na
cesta da guilhotina, um homem não identificado se aproximara. Mergulhou a mão
no sangue do monarca, sacudindo-a no ar e gritara: "Jacques de Molay,
fostes vingado!"4
Significância
Dentre documentos e relíquias produzidas com datas retroativas, que
visassem consertar ou atenuar feitos passados, e que vêm - em momentos
oportunos - "surgir em depósitos secretos" o documento de
Chinon veio à luz quando começou a se tornar pública a execução dos últimos
líderes da ordem. Por alguns considerada a maior injustiça da Inquisição
Medieval, a prisão e tortura - por sete anos - de Jacques de Molay, que poderia
ter-se expiado simplesmente confirmando as acusações - agora aparece como
confessando, sendo assim absolvido, mas continuaria preso e terminaria queimado
- o documento parece mesmo ter sido produzido após 1314, com a finalidade de
atenuar a provável exposição da crueldade papal e também da obstinação deste
homem em se manter fiel à verdade, mesmo que isto lhe custasse a vida.
Mesmo antes do Vaticano anunciar a sua existência, muitos livros de
referência sobre os Templários já citavam o Pergaminho de Chinon. Em 2002,
a Dra. Barbara Frale localizou uma cópia do pergaminho nos arquivos do
Vaticano. Mesmo com datação por métodos modernos, não se poderia comprovar a
data do texto, apenas a data com que o couro-base foi preparado. Em outubro de 2007,
o Vaticano anunciou que liberaria uma cópia do Pergaminho de Chinon, após
"700 anos".5
Notas
1. ↑ Long-lost text lifts cloud from Knights Templar,
http://www.msnbc.msn.com/id/21267691/?GT1=10450,
visitado em 2007-10-12
2. ↑ Anne Gilmour-Bryson explorou amplamente
esta questão em "Sodomia e os Cavaleiros Templários" Journal of
the History of Sexuality 7.2 (Outubro 1996), pp. 151-183. Ela inicia
sua análise com o contraponto "Em qualquer exame de testemunha da
Inquisição, é impossível deixar de imaginar o efeito que a tortura teve nas
respostas dadas." (p. 153).
3. ↑ Demurger, p.154-155/French, p.
107/English
4. ↑ Holy Blood, Holy
Grail, by Michael Baigent,
Richard Leigh and Henry Lincoln, 1983 Dell publishing ISBN 978-0440136484, pg. 80
5. ↑ "Vatican to publish new papers on trial of Knights
Templar", Associated Press via USA Today, October
12, 2007. Página visitada em 2007-10-17.
Bibliografia
- Barber, Malcolm, The Trial of the Templars (Cambridge) 1978.
- Frale, Barbara. The Chinon chart. Papal absolution to the last Templar, Master Jacques de Molay. Journal of Medieval History, Volume 30, Number 2, April 2004, pp. 109–134
- Frale, Barbara. Il papato e il processo ai templari: l'inédita assoluzione de Chinon alla luce della diplomatica pontificia. Le edizioni del Mulino. 2004
- Frale, Barbara. Processus contra Templarios Vatican Secret Archive. 2007.
Ligações externas
- THE PARCHMENT OF CHINON Vatican Library - Vatican overview and image of the parchment
- The Chinon Parchment, a rough English translation - InRebus.com
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