domingo, 2 de setembro de 2012

A TORRE DO PRISIONEIRO


“Podemos perguntar-nos se o artista da cela foi mesmo um prisioneiro, ou se se trata de um trabalho realizado de forma deliberada para deixar uma mensagem. Talvez esta ultima seja um meio de encontrarmos a via para SAIRMOS DA NOSSA PRISÃO INTERIOR. De qualquer modo, as esculturas da Torre do Prisioneiro, em Gisors, transcendem, de longe, o simples testemunho da nostalgia de um homem, como gostariam de nos fazer acreditar.
Michel Lamy
Biólogo e professor na Universidade de Bordéus

Existe toda uma aura de lenda TEMPLÁRIA à volta do Castelo de Gisors, em França. A arquitetura circular deste castelo da Ordem torna-o peculiar e transmite-nos a idéia do “CENTRO DO MUNDO”, ou seja, o lugar onde o céu comunica com a terra, espaço propiciador para a alma humana ascender ao nível de consciência onde esta entra em contato com os arquétipos espirituais.

            Neste Castelo existe a chamada Torre do Prisioneiro. Diz a lenda que lá esteve encarcerado Poulain, um Cavaleiro amante da Rainha Branca. Deste amor nasceu uma filha que não sobreviveu. Entretanto o Rei, posto ao corrente do caso, mandou encarcerar Poulain nessa torre do Castelo. O cavaleiro conseguiu-se evadir, mas, ferido, só teve forças para ir morrer nos braços daquela que amava. Nesta famosa cela ainda hoje o visitante do Castelo de Gisors pode admirar muitos baixos-relevos que o “prisioneiro” teria esculpido. Num destes baixo-relevos, precisamente na ponta do cinto de uma donzela, vemos São Jorge a matar o Dragão. Podemos também ler o seguinte texto:

O MATER DEI MEMENTO MEI – PULAIN
(Oh mãe de Deus, lembra-te de mim – Poulain)

            Nesta lenda do “prisioneiro” encontramos claramente um substrato simbólico semelhante ao mito de Eros e Psiché 1 Poulin conhece a Dama dos seus amores, depois fica prisioneiro; após esta aprovação, liberta-se e ao encontrar a Rainha Branca, morre. No ciclo do Rei Artur, o Cavaleiro que VISSE O GRAAL 2 morreria nesse momento, pois morrer é renascer para uma outra dimensão.
1 EROS:   deus do Amor. PSICHÉ:  mortal, moça de rara beleza. Seu nome significa Alma.
2 GRAAL: é uma expressão medieval que designa normalmente o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia, e no qual José de Arimatéia colheu o sangue de Jesus durante a crucificação.

            Moisés do Espírito Santo, eminente estudioso das religiões que passaram pelo território português, não hesita em afirmar: “a lógica da vida religiosa é a seguinte: primeiro existem os arquétipos nos inconscientes individuais; depois praticam-se ritos concordantes com esses arquétipos. Os arquétipos são indizíveis, mas a relação entre eles e o ritual tem de ser justificada à luz da racionalidade vulgar; para tanto inventam-se os mitos religiosos.”

            Tendo como base os três níveis de realidade propostos por Henry Cobin (Francês, filósofo, teólogo e professor de Estudos Islâmicos da Universidade de Sorbonne em Paris), podemos compreender e sentir melhor a dinâmica da vida espiritual realizada.

            O caminho natural do Homem Global, espiritualmente e psiquicamente saudável, é capar de mitos de acordo com os seus arquétipos inconscientes, através a INTERIORIDADE e ir, paulatinamente, concretizando-os de alguma forma no MUNDO DO SENSÍVEL.

            Nesta perspectiva, torna-se inteligível a afirmação do psiquiatra Suíço Carl Gustav Jung, quando diz que a vida psíquica saudável é o resultado de um inconsciente que se realiza. Carl Gustav Jung é fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.
            Hoje existe uma pressão excessiva para a exterioridade, o que provoca as chamadas patologias do Sagrado, segundo a terminologia antropológica. O homem fica vazio espiritualmente indo buscar nas paixões da personalidade (sexo sem amor verdadeiro, prestígio, poder material...) consolação para sua profunda fome sentimental. A própria amizade, tão enaltecia pelos filósofos de todos os tempos, existe muito pouco, pois ela, para ser verdadeira exige uma comunicação entre interioridades, dado que a personalidade exterior é egoísta por natureza.

            Existe também o caso contrário das pessoas que, sentindo o profundo vazio espiritual e humano reinante na nossa sociedade, buscam o esoterismo mas não se esforçam por senti-lo e vivê-lo à sua medida, continuando a somar conhecimento para o intelecto. O intelecto fica muito preenchido mas a alma continua pobre e sem interioridade, abrindo espaço à superstição. Ora, a vivência esotérica provoca de forma natural o altruísmo e o sentimento de solidariedade para com todo o cosmo. Por isso, os Templários que estiveram presos em Chiron, na França, esculpiram na pedra um coração irradiante.

            MUNDO INTELIGÍVEL:
Dimensão da natureza onde habitam os arquétipos puros do BOM, do Belo e do Justo. Aqui se encontra o verdadeiro GRAAL. Quando a consciência do Homem consegue acender a este mundo, a alma iluminada adquire uma força poderosa. “é tão belo que é inexprimível”


            MUNDO IMAGINAL:
Dimensão sutil da natureza onde vivem os mitos e idéias com forma. Os mitos vivem e tem força enquanto veiculem energia proveniente dos arquétipos puros (espirituais). Por exemplo, se um homem capta uma idéia mas não a concretiza, ela deixa de o habitar, ficando só a “casca” mítica.

            MUNDO SENSÍVEL:
Realidade Histórica onde se concretizam os mitos e idéias que o Homem capta. Ao concretizá-los, o Homem Realiza-se.


DUPLA ESPIRAL:
Símbolo que encontramos nas mais diversas culturas antigas como a Céltica e a Grega. Representa a harmonia entre a inspiração e a respiração. O movimento centrípeto e centrífugo A captação dos mitos e arquétipos e a sua manifestação no mundo visível.

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