É fato que praticamente tudo o que o sai da boca do líder da
Igreja Católica vira tópico para longos debates. Ainda mais quando uma figura
popular como a do papa Francisco é quem está diante dos fiéis, sem medo
de tocar em temas tabus. Imagine então o alvoroço causado por uma fala de
Francisco envolvendo animais?
A fala fez parte de uma recente catequese na Praça de São
Pedro, na qual Francisco falou: “É bom pensar no Céu. Todos nos encontraremos
lá, todos. (...) A Sagrada Escritura nos ensina que o cumprimento desse projeto
maravilhoso não pode deixar de abranger tudo o que está ao nosso redor e que
saiu do pensamento e do coração de Deus. O apóstolo Paulo afirma isso de forma
explícita, quando diz que “também ela (a criação) será libertada do cativeiro
da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus”.
O pontífice falou ainda da renovação do universo e ressaltou:
“não se trata de aniquilar o cosmos e tudo o que nos circunda, mas de levar
todas as coisas à sua plenitude de ser, de verdade e de beleza”. O jornal Corriere
della Sera destacou que as palavras do pontífice “ampliaram a esperança de
salvação e beatitude escatológica dos animais e de toda a criação”.
O resultado pôde logo ser verificado nas associações de
defesa dos animais. “Minha caixa de mensagens ficou lotada”, disse ao jornal The
New York Times Christine Gutleben, diretora da Sociedade Humana, maior
grupo de proteção animal dos Estados Unidos. “Quase imediatamente, todo mundo
estava falando sobre isso”.
Charles Camosy, professor de ética cristã da Universidade
Fordham, em Nova York, considera difícil saber com precisão o que Francisco
quis dizer, uma vez que ele falou “em linguagem pastoral que não é realmente
feita para ser dissecada por acadêmicos”. No entanto, questionado se as
palavras do sumo pontífice haviam provocado debate sobre se os animais têm ou não
têm alma e vão ou não vão para o céu, respondeu sem relutar: “Com certeza”.
Contudo, teólogos advertiram para a animação em torno da fala
de Francisco. “Todos nós dizemos que haverá uma continuidade entre este mundo e
um mais alegre no futuro, mas também uma transformação”, disse ao jornal
britânico The Guardian Gianni Colzani, professor emérito de teologia
na Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma. “O equilíbrio entre as duas
coisas é que nós não estamos em condição de determinar. Por esta razão, eu acho
que nós não devemos fazer o papa dizer mais do que ele disse”.
O Corriere lembra que o tema é recorrente na Igreja
Católica, e que o papa Paulo VI teria consolado um menino pela morte de seu
cachorro dizendo que “um dia, vamos rever nossos animais na eternidade de
Cristo”. Por outro lado, o papa Bento XVI disse em uma homilia em 2007 que “em
outras criaturas que não são chamadas à eternidade, a morte significa apenas o
fim da vida sobre a Terra”.
Vegetarianismo – O debate também envolve certa dose de
oportunismo, com Sarah Withrow, diretora da organização pró-animais Peta,
dizendo que as palavras de Francisco podem influenciar os hábitos de consumo
dos católicos. “Eu não sou uma historiadora católica, mas o mote da Peta é que
os animais não são nossos, e os cristãos concordam com isso. Os animais não são
nossos, são de Deus”, disse ao NYT.
Dave Warner, porta-voz do Conselho Nacional de Produtores de
Suínos, rebateu: “Como aconteceu com outras coisas que o papa Francisco disse,
seus comentários recentes sobre todos os animais irem para o céu foram mal
interpretados. Eles certamente não significam que abater e comer animais é
pecado”.
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