quinta-feira, 10 de março de 2016

O Iniciado


Ao contrário de toda a facilidade que se possa imaginar, tornar-se um Iniciado de uma Ordem Esotérica, representa o início de uma longa jornada cheia de curvas e retas, subidas e descidas, pedras e campos, flores e espinhos. Disse Jesus Cristo o Mestre dos Mestres: “muitos são chamados e poucos os escolhidos”.
Muitos pensam que a Iniciação o transformará como um passe de mágica em uma nova pessoa, que lhe mostrará segredos há muito preservados, o que foge a toda a realidade. Disse Jesus “digo meus mistérios aos que são dignos de meus mistérios”, portanto, é preciso fazer por onde merecer ser escolhido e preparado.
Assim como a lagarta se torna crisália e depois do estado de “gestação espiritual”, ou seja, de quietude torna-se borboleta, também o homem carece da mesma quietude, do acalmar do seu coração, da contemplação e da meditação para alcançar o estado que o levará a descobrir “reino de Deus”, que na verdade, habita dentro do próprio homem.
A experiência Iniciática serve para mostrar ao homem o caminho a seguir, já o caminhar, este depende do próprio homem.
Imaginemos que o homem se encontra em um lugar frio e úmido, como se fosse um tumulo, assim é o mundo profano. Com a Iniciação uma porta se abre para ele. Esta porta representa uma nova vida, mas só ele pode decidir se quer ou não trocar de ambiente. Assim é a Iniciação. Ela não transforma quem não quer transformar a si mesmo. Daí muitos desistirem no meio do caminho como fizeram aqueles discípulos e seguidores do Mestre Nazarenos em Cafarnaum ao dizerem “duro é esse discurso”, ou seja, a verdade que liberta.
O homem “moderno”, trocou a quietude do “útero materno”, pelos sons produzidos pelas máquinas acreditando que tais sons retirariam dele o medo da “solidão”, deixando assim de perceber que ao fazer isso perdeu a sua segurança e o conforto material e espiritual.
Estar acompanhado por alguém, não quer dizer deixar de estar só. Não é o outro que complementa e preenche o espaço vazio na vida do homem. Para preencher esse espaço é preciso compreender as palavras do Mestre ao mostrar o caminho da eterna felicidade introduzindo o mais completo de todos os mandamentos “amar ao próximo como a si mesmo”. Este mandamento na verdade deve ser executado de forma contrária pois o Cristo diz que é preciso amar primeiro a si mesmo, de forma intensa, pura, forte, completa, lembrando-se sempre que o “corpo é morada do espírito”. Só assim, é possível amar ao outro com a mesma intensidade.
Ninguém pode amar ao próximo se não amar a si mesmo primeiro, se não descobrir que seu corpo é o “templo do Senhor”.
Visto por este prisma, o mandamento convoca o homem a uma transformação. A uma verdadeira Iniciação. A um renascimento.
Compreendendo a essência do mandamento, o homem deixa de procurar fora o que só encontra dentro de si. Quem diz isso é o próprio Mestre ao afirmar que “o reino de Deus está dentro de vós”.
Conhecendo a comodidade e a fraqueza humana, muitos “falsos profetas” tem surgido, inspirados nas ações de muitas religiões, apresentando fórmulas mágicas de salvação e redenção, fazendo disso uma forma de enriquecer.
O caminho da perdição é largo. O caminho da salvação é estreito.
No caminho da perdição tudo é fácil, tudo se mostra “belo”, tudo se mostra “prazeroso”, tudo se transforma como passe de mágica. Só existe o agora, e, o prazer que ele proporciona!
No caminho da salvação não existe ilusão, não existe facilidade, existe “orar e vigiar”, trabalhar para a transmutação alquímica do homem velho, em um novo homem. Neste caminho, aparentemente “penoso”, está a verdadeira felicidade e complementação do homem. Nele não existem surpresas e muito menos “ressacas morais” daquelas que durante as festas todas bebidas, drogas e orgias são “prazerosas”, mas no dia seguinte, vem a rebordosa. A desilusão. O corpo está “destruído”, enquanto que a alma, ou o eu divino, “cobra” ao ego inconsequente todo aquele desgaste físico, mental e espiritual.
O caminho do renascimento traz ao homem todas as respostas que ele busca sem que ele precise buscar as respostas. Não é mais o ego que está no comando, querendo os olhares e flash para ele, mas, o eu divino que passa a controlar toda a situação. Não é ego que se alimenta mais do supérfluo, mas o eu divino que recebe a “água viva” e o “alimento que não perece” consciente de que ambos os nutre para a eternidade.
Assim, passo a passo, o Iniciado vai descobrindo que o velho homem acumulava o desnecessário e iludia-se com seus brilhos, cores e sons.
Na medida que o Iniciado descobre que tudo o que necessita está dentro de si mesmo, deixa de buscar fora aquilo que precisa.
Muitos acham que basta orar, mas esquecem do vigiar. Vigiar para não mentir, pois “a verdade o libertará”. Vigiar para lembrar-se que o outro é sua extensão e se assim o é, merece respeito, amor e carinho. Vigiar pois não se pode “servir a dois senhores, pois ou se agradará a um ou se desagradará a outro”.
Quando Nicodemos, doutor da lei na calada da noite procurou o Mestre em busca de descobrir o caminho da salvação, recebeu dele a resposta que era preciso “renascer, nascer em espírito”. Da mesma forma que quando o jovem rico buscou ao Mestre para saber o mesmo ele respondeu “vai, vende tudo que tem, distribui aos pobres e segue-me”.
A Nicodemos Jesus não disse que ele precisava entrar de volta ao útero materno, como o próprio “doutor” chegou a questionar, mas disse-lhe que era preciso mudar de rumo, deixar de seguir ao senhor deste mundo e “calçar às suas sandálias”.
Ao jovem não disse que deveria vender seus bens, mas deixar de cultuá-los, de venerá-los, de segurá-los para si como se fossem a “tabua da salvação” e convocou-lhe a se dedicar às práticas do bem, do servir ao próximo, do ampará-los. A seguir –lhe. Sugeriu que troca-se de rumo, que se converte-se em “novo homem”.
Aquele que deseje se tornar um Iniciado Templário e/ou de qualquer outra Ordem Esotérica, deve lembrar-se que o caminho é estreito e que a luz surgirá na medida em que se dedique e se disponha “orar e vigiar” lembrando-se sempre que servir é a grande graça e o receber é a consequência do servir desinteressadamente.
Um fraterno abraço a todos.
Fr. A.N.

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