Ao contrário de toda a facilidade que se possa imaginar, tornar-se
um Iniciado de uma Ordem Esotérica, representa o início de uma longa jornada
cheia de curvas e retas, subidas e descidas, pedras e campos, flores e espinhos.
Disse Jesus Cristo o Mestre dos Mestres: “muitos são chamados e poucos os
escolhidos”.
Muitos pensam que a Iniciação o transformará como um passe de
mágica em uma nova pessoa, que lhe mostrará segredos há muito preservados, o
que foge a toda a realidade. Disse Jesus “digo meus mistérios aos que são
dignos de meus mistérios”, portanto, é preciso fazer por onde merecer ser
escolhido e preparado.
Assim como a lagarta se torna crisália e depois do estado de “gestação
espiritual”, ou seja, de quietude torna-se borboleta, também o homem carece da mesma
quietude, do acalmar do seu coração, da contemplação e da meditação para alcançar
o estado que o levará a descobrir “reino de Deus”, que na verdade, habita
dentro do próprio homem.
A experiência Iniciática serve para mostrar ao homem o
caminho a seguir, já o caminhar, este depende do próprio homem.
Imaginemos que o homem se encontra em um lugar frio e úmido,
como se fosse um tumulo, assim é o mundo profano. Com a Iniciação uma porta se
abre para ele. Esta porta representa uma nova vida, mas só ele pode decidir se
quer ou não trocar de ambiente. Assim é a Iniciação. Ela não transforma quem
não quer transformar a si mesmo. Daí muitos desistirem no meio do caminho como
fizeram aqueles discípulos e seguidores do Mestre Nazarenos em Cafarnaum ao
dizerem “duro é esse discurso”, ou seja, a verdade que liberta.
O homem “moderno”, trocou a quietude do “útero materno”,
pelos sons produzidos pelas máquinas acreditando que tais sons retirariam dele
o medo da “solidão”, deixando assim de perceber que ao fazer isso perdeu a sua
segurança e o conforto material e espiritual.
Estar acompanhado por alguém, não quer dizer deixar de estar
só. Não é o outro que complementa e preenche o espaço vazio na vida do homem. Para
preencher esse espaço é preciso compreender as palavras do Mestre ao mostrar o
caminho da eterna felicidade introduzindo o mais completo de todos os
mandamentos “amar ao próximo como a si mesmo”. Este mandamento na verdade deve
ser executado de forma contrária pois o Cristo diz que é preciso amar primeiro
a si mesmo, de forma intensa, pura, forte, completa, lembrando-se sempre que o “corpo
é morada do espírito”. Só assim, é possível amar ao outro com a mesma
intensidade.
Ninguém pode amar ao próximo se não amar a si mesmo primeiro,
se não descobrir que seu corpo é o “templo do Senhor”.
Visto por este prisma, o mandamento convoca o homem a uma
transformação. A uma verdadeira Iniciação. A um renascimento.
Compreendendo a essência do mandamento, o homem deixa de
procurar fora o que só encontra dentro de si. Quem diz isso é o próprio Mestre
ao afirmar que “o reino de Deus está dentro de vós”.
Conhecendo a comodidade e a fraqueza humana, muitos “falsos
profetas” tem surgido, inspirados nas ações de muitas religiões, apresentando
fórmulas mágicas de salvação e redenção, fazendo disso uma forma de enriquecer.
O caminho da perdição é largo. O caminho da salvação é
estreito.
No caminho da perdição tudo é fácil, tudo se mostra “belo”,
tudo se mostra “prazeroso”, tudo se transforma como passe de mágica. Só existe
o agora, e, o prazer que ele proporciona!
No caminho da salvação não existe ilusão, não existe
facilidade, existe “orar e vigiar”, trabalhar para a transmutação alquímica do
homem velho, em um novo homem. Neste caminho, aparentemente “penoso”, está a
verdadeira felicidade e complementação do homem. Nele não existem surpresas e
muito menos “ressacas morais” daquelas que durante as festas todas bebidas,
drogas e orgias são “prazerosas”, mas no dia seguinte, vem a rebordosa. A
desilusão. O corpo está “destruído”, enquanto que a alma, ou o eu divino, “cobra”
ao ego inconsequente todo aquele desgaste físico, mental e espiritual.
O caminho do renascimento traz ao homem todas as respostas
que ele busca sem que ele precise buscar as respostas. Não é mais o ego que está
no comando, querendo os olhares e flash para ele, mas, o eu divino que passa a
controlar toda a situação. Não é ego que se alimenta mais do supérfluo, mas o
eu divino que recebe a “água viva” e o “alimento que não perece” consciente de
que ambos os nutre para a eternidade.
Assim, passo a passo, o Iniciado vai descobrindo que o velho
homem acumulava o desnecessário e iludia-se com seus brilhos, cores e sons.
Na medida que o Iniciado descobre que tudo o que necessita
está dentro de si mesmo, deixa de buscar fora aquilo que precisa.
Muitos acham que basta orar, mas esquecem do vigiar. Vigiar
para não mentir, pois “a verdade o libertará”. Vigiar para lembrar-se que o
outro é sua extensão e se assim o é, merece respeito, amor e carinho. Vigiar
pois não se pode “servir a dois senhores, pois ou se agradará a um ou se
desagradará a outro”.
Quando Nicodemos, doutor da lei na calada da noite procurou o
Mestre em busca de descobrir o caminho da salvação, recebeu dele a resposta que
era preciso “renascer, nascer em espírito”. Da mesma forma que quando o jovem rico
buscou ao Mestre para saber o mesmo ele respondeu “vai, vende tudo que tem,
distribui aos pobres e segue-me”.
A Nicodemos Jesus não disse que ele precisava entrar de volta
ao útero materno, como o próprio “doutor” chegou a questionar, mas disse-lhe
que era preciso mudar de rumo, deixar de seguir ao senhor deste mundo e “calçar
às suas sandálias”.
Ao jovem não disse que deveria vender seus bens, mas deixar
de cultuá-los, de venerá-los, de segurá-los para si como se fossem a “tabua da
salvação” e convocou-lhe a se dedicar às práticas do bem, do servir ao próximo,
do ampará-los. A seguir –lhe. Sugeriu que troca-se de rumo, que se converte-se
em “novo homem”.
Aquele que deseje se tornar um Iniciado Templário e/ou de
qualquer outra Ordem Esotérica, deve lembrar-se que o caminho é estreito e que a
luz surgirá na medida em que se dedique e se disponha “orar e vigiar”
lembrando-se sempre que servir é a grande graça e o receber é a consequência do
servir desinteressadamente.
Um fraterno abraço a todos.
Fr. A.N.
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